Do poeta Dideus Sales, tenho notícias desde criança, quando ouvia a Rádio Educadora, onde ele era apresentador
Pedro
Salgueiro Três notícias literárias
DIDEUS
SALES
Soube,
através de amigos, que o poeta Dideus Sales estaria em Fortaleza para lançamento
de livro sobre Luis Gonzaga; o
local - mais que aprazível - seria o projeto Bazar das Letras do SESC,
capitaneado pelo meu amigo Carlos Vazconcelos, que competentemente conversa
todo mês com um escritor cearense ou de outros estados sobre literatura;
depois (quando são autografados os livros, sempre com um preço bem convidativo)
desse diálogo agradável o leitor tem oportunidade de “trocar umas idéias” com o
autor convidado, assim como reencontrar amigos, rever colegas escritores.
Do poeta Dideus tenho notícias desde criança,
quando ouvia a Rádio Educadora de Crateús, onde ele já era um dos
apresentadores de destaque. Com o passar dos anos, através de amigos comuns,
fui sabendo das façanhas, livros e versos do poeta (isso também só fiquei
sabendo depois) natural de Independência (a velha Porronca). Como não o
conhecia pessoalmente fui lá prestigiá-lo, esperando encontrar um senhor de
idade avançada, cabelos embranquecidos pela cal do tempo; e que surpresa: todo
fagueiro no palco recitando cordéis, contando piadas, um sujeito de minha
idade, gordinho feito eu e com o nosso inconfundível sotaque de matuto dos
Inhamuns. Depois da apresentação, trocamos um abraço de velhos “conhecidos” e,
ao ouvir minha surpresa com sua jovialidade, se saiu com esta: - É que eu
comecei novo no rádio! Mal tinha completado 15 anos já estava no “batente”...
Semanas depois, a gulosa turma dos Poetas de Quinta
estava comendo uma galinha pé-duro na longa mesa de sua casa em Aracati, visita
que ele retribuiu (ao Fortim) logo no dia seguinte. Encontros regados a cerveja
e poesia popular da melhor qualidade.
ONDJAKI
Esta
semana esteve em Fortaleza um dos melhores escritores de língua portuguesa da
atualidade: o jovem angolano Ondjaki, que eu já conhecia de livro (havia lido
sua coletânea de contos Quantas madrugadas tem a noite) e, pasmem!, até já
havia publicado, alguns anos atrás, um conto dele em nossa revista Caos
Portátil, trazido por Jorge Pieiro de uma de suas estranhas viagens por
Panaplos e arredores. Curioso, convidei amigos e fomos assistir ao bate-papo do
colega africano com a escritora paulista (radicada em Fortaleza) Nina Rizzi e a
competente professora da UFC, Fernanda Coutinho. A inexplicável pouca presença
de público não foi entrave para a agradável noite. O talentoso escritor foi
falando sobre tudo, de sua infância na pátria já liberta das garras coloniais,
de seu fazer literário e de sua inspiradora avó (a mesmíssima de AvóDezanove e
o segredo do soviético e outros livros seus).
Ao lado do auditório do BNB (agora funcionando no
Centro de Referência dos Professores, ali onde já foi o velho Mercado Central),
fomos tomando conhecimento de outros livros do escritor: Aprendisajens com o
xão (poesia), A bicicleta que tinha bigodes e o recente Uma escuridão bonita
(infanto-juvenis, mas não só, maravilhosamente ilustrados por Antônio Jorge
Gonçalves). De noite ficou o convite para que assistíssemos no dia seguinte, no
Sobrado José Lourenço, ao documentário sobre Luanda Oxalá cresçam pitangas.
E o bate-papo, o documentário e as conversas
posteriores deixaram em nós um gostinho de quero mais, uma curiosidade de maior
conhecimento não somente sobre o autor, mas sobre esse país tão parecido com o
nosso, sobre esse povo tão alegre e sofredor como o nosso; também deixou em mim
uma saudade dos anos 1980, quando eu dava meus primeiros passos literários e
tomei conhecimento de Angola através de um de seus maiores escritores: José
Luandino Vieira, de quem me tornei leitor fiel e admirador incondicional.
MILTON DIAS
A melhor
notícia que poderia ter a literatura cearense este ano (dos 30 anos de ausência
do fundamental escritor de As cunhãs) foi a de que finalmente o romance perdido
de Milton Dias vai ser publicado. Desde os anos 1990 que ouço falar no misterioso
A senhora da sexta-feira, deixado inédito pelo famoso cronista. Várias vezes
perguntei ao amigo Sânzio de Azevedo sobre o livro, se ele tinha notícias, se
havia lido... Ele me respondia que apenas tinha ouvido vagas notícias. De
Milton Dias tive o prazer de ainda ser leitor de suas crônicas no jornal O
POVO, bem antes de sonhar em escrever; depois tive também o prazer de ler
seus livros, desde o póstumo Relembranças aos mais raros, adquiridos em sebos
(alguns até com seu autógrafo).
Finalmente, e após três décadas, vamos ter a
oportunidade (e o prazer) de ler aquele que foi o “canto do cisne” de Milton
Dias, seu livro inédito dado até pelos amigos mais próximos como perdido: sei
apenas que ele conta a curiosa história de uma bem casada jovem, que se chama
Mafalda, da alta-sociedade, e que ela misteriosamente morre na casa de um
suposto amante... de mais não sei, e se soubesse não contaria. Pois quem quiser
saber vá quinta-feira próxima (dia 7 de novembro), às 19h, ao Ideal Clube, onde
o livro será lançado.